Eu não conseguia entender o que
estava acontecendo. Estava quebrada, moída por dentro. Meu coração disparava
sem parar, não conseguia suspirar, não conseguia respirar fundo. Tinha muito
nublado no mundo. Muito cinza na rua. Muita cegueira, falta de confiança.
Desesperança.
Respira fundo, minha filha, com
calma. Não conseguia mesmo, de verdade. Vivia apavorada e não sabia. A mais
verdadeira versão porco –espinho de mim mesma. Não tinha calma, não havia lugar
para paz.
Existiam muitas explicações a serem
dadas, muitas justificativas e muito silêncio. Muita cobrança de tudo, de
cobrir a falta, o buraco, o desamparo. A omissão, o omitido e o desmentido.
Mas a verdade vem sempre à tona.
Ela precisa vir à superfície para respirar, não pode viver submersa por muito
tempo.
A verdade liberta. Ela tem o dom
de promover uma reviravolta geral. E nos obriga a assumir uma posição no mundo,
uma posição firme, onde possamos afirmar aquilo que realmente desejamos...
Desejo mais poesia e mais
gentileza... mas sorriso e gargalhada, olhos
vivos e brilhantes; iluminados, olhando fixamente, longamente... pra dentro de
mim. Desvelando meus medos e me ajudando a enfrentá-los. Você está fazendo isso
por mim. Você me olha e eu tenho a mais absoluta certeza de que tudo vai dar
certo... Ouço você falar e meu coração se acalma. A gente se conhece há tanto
tempo e só se encontrou agora e, quando olho para frente, vejo tudo muito doce,
muito bonito, cheio de carnaval; a gente olha a vida de frente, de cara limpa,
aberta e com um pouco de medo, porque um
pouco de medo é normal ué. Mas tá aí. A disposição de amar sem reservas. Sem
jogos.
Aprendi nos últimos tempos que,
melhor do que verdade vindo à tona, é viver a vida com verdade.